A ameaça provocada pela lagarta Helicovespa armigera às lavouras
mato-grossenses tem preocupado os produtores do estado. Para reduzir os riscos
de perdas causadas pela praga, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) está iniciando trabalhos de pesquisa e de transferência de tecnologia
sobre o problema.
As ações fazem parte da distribuição de tarefas entre as instituições
componentes do Grupo Helicoverpa Mato Grosso. O grupo de trabalho foi criado
pela Aprosoja e reúne instituições de pesquisa e entidades de classe de todo o
estado.
Neste primeiro momento a Embrapa se propôs a desenvolver duas pesquisas.
Em uma delas será avaliado o efeito do sistema produtivo sobre a dinâmica da
lagarta.
“Será que soja sobre milho, por exemplo, dá maiores condições para a
proliferação da praga? E soja sobre braquiária? Queremos saber como o sistema
produtivo influencia na propagação da praga”, explica o pesquisador da área de
Entomologia da Embrapa Agrossilvipastoril, Rafael Pitta.
Em outra pesquisa será avaliada a suscetibilidade da Helicoverpa
armigera a diferentes inseticidas químicos e biológicos. Segundo Pitta, serão
testadas doses a fim de determinar uma dose diagnóstica em populações de
laboratório suscetíveis. Posteriormente, esta dose será utilizada em populações
de campo para aferir a porcentagem de mortalidade quando comparado à população
de laboratório.
“Se morrerem menos de 95%, saberemos que um percentual maior apresenta
algum grau de resistência. Esta ferramenta é importante para o produtor pensar
na aquisição de produtos. Se a população está com razão de resistência a uma
molécula, ele deverá evitá-la. É importante saber para que ele faça a rotação
de produtos e evite a seleção de organismos resistentes”, explica o
entomologista da Embrapa.
Atualmente as pesquisas estão em fase de planejamento. Os projetos estão
sendo elaborados e até o fim de agosto serão submetidos à aprovação de um
comitê técnico da Aprosoja.
Paralelamente à realização das pesquisas, a Embrapa também apoiará o
desenvolvimento de ações de transferência de tecnologia em Mato Grosso, de modo
a formar multiplicadores de conteúdo. Assim, será possível levar até os
produtores informações atualizadas sobre o manejo da praga.
A lagarta
Lagartas do gênero Helicoverpa estão presentes nas lavouras de todo o
mundo. Um exemplo é a Helicoverpa zea, que ataca as espigas de milho nas
plantações brasileiras. A espécie Helicoverpa armigera, entretanto, foi
identificada pela primeira vez no Brasil em dezembro do ano passado. Atualmente
ela já se encontra disseminada em boa parte do território nacional, inclusive
em Mato Grosso, onde ainda não causou grandes prejuízos.
Pesquisas com o DNA da praga buscam identificar a forma de entrada da
espécie no país, mas sabe-se que suas mariposas têm capacidade de voos a
distâncias superiores a 1.000 km.
Uma das preocupações com a Helicoverpa armigera é o fato dela atacar
várias espécies de interesse econômico, como soja, algodão,
feijão, milho e tomate. Além disso, tem alta
capacidade de dispersão dos indivíduos voadores (mariposas); elevada capacidade
de reprodução e sobrevivência; potencial de desenvolvimento de resistência a
inseticidas; e alta capacidade de adaptação a diferentes ambientes, climas e
sistemas de cultivo.
Entretanto, algumas medidas de controle já podem ser tomadas pelos
produtores. A principal delas é fazer o monitoramento para avaliar a real
necessidade de pulverizar. De acordo com o pesquisador Rafael Pitta é preciso
ir ao campo, contabilizar o número de lagartas e saber identificar as espécies
para evitar uso inadequado de produtos. Este monitoramento deve ser feito com
pano de batida, podendo ser complementado utilizando armadilha luminosa e
feromônio sexual.
“A armadilha luminosa vai atrair uma gama de espécies, entre ela a
Helicoverpa armigera. Já o feromônio sexual é especifico e só virá a Helicoverpa,
o que ajuda na em sua identificação. Somente em função deste monitoramento é
que o produtor fará a pulverização. Reduzindo o numero de pulverizações, ele dá
chance para a sobrevivência dos inimigos naturais que são importantes no
controle natural da praga”, explica o pesquisador.