Entrevista com o biólogo
Arnaud Apoteker,
assessor político do Partido
Verde no Parlamento Europeu
Por Luisa Colisimone, em
22/11/2012
Tradução AS-PTA
Um transgênicos não têm nada a ver com outras técnicas convencionais
empregadas na agricultura, como a fecundação cruzada. Se não é nem natural nem
algo que o agricultor pode fazer, então é um transgênico.
A controvérsia em torno dos transgênicos não é nova na cena política. O que
torna esse novo estudo diferente de resultados anteriores é que ele é uma
análise de efeitos no longo prazo, que avalia um cereal específico, o milho da
Monsanto, liberado anteriormente pela Agência Europeia de Segurança dos
Alimentos (EFSA).
Tudo bem então? Não tão bem como possa parecer. A EFSA, que este ano
comemora seu décimo aniversário em meio a uma polêmica sobre conflito de
interesses e sobre sua independência, nunca publicou suas fontes, tendo
baseado-se exclusivamente em dados da indústria. E jamais recusaram um pedido
de liberação de transgênicos.
Já aconteceu de a EFSA solicitar maiores informações sobre um pedido de
liberação, mas suas diretrizes não são boas. A liberação de um organismo
transgênico não pode se basear exclusivamente em dados da indústria. O estudo
de Séralini no mínimo traz à tona uma evidência há muito ignorada: são
necessárias avaliações de longo prazo antes de um produto transgênico ser
liberado para consumo humano e animal. Isso os Verdes na Europa sempre disseram.
Os estudos atuais são no máxino de 90 dias, quando não mais curtos ou mesmo
omitidos. Avaliações de longa duração são mais caras e demandam um número maior
de amostras, entretando, os problemas só aparecem após o quarto mês de
monitoramento.
Os que criticam o estudo de Séralini centram-se no fato de ele ser
não-conclusivo, mas se não se pode concluir a respeito da toxicidade do milho,
como o estudo faz, também não se pode excluir a hipótese.
O Conselho alemão e outras autoridades nacionais científicas anunciaram que
o estudo não é suficiente para mudar suas opiniões sobre os transgênicos. Mas
seu maior resultado é que agora a França exige estudos de longo prazo.
O estudo não necessariamente questiona o milho, mas ressalta falhas dos
processos de liberação dos transgênicos em geral. E nesse sentido ele é um
sucesso.
O Conselho de Meio Ambiente da União Europeia já pedira em 2008 tais
estudos de longo prazo, mas a Comissão fez muito pouco desde então – a EFSA
produziu novas diretrizes que ainda devem ser enviadas pela Comissão ao
Parlamento Europeu para debate. Essas novas diretrizes contudo não representam
um avanço significativo, uma vez que os responsáveis por sua elaboração ainda
são ligados à indústria.
Seis academias francesas de ciência rejeitaram o estudo de Séralini, mas
essas instituições agem como um “bússula apontando para o sul”, também já
endossaram o amianto e outros materiais perigosos.
Isso tudo deixa no ar uma questão para esse debate que está longe de se
encerrar: por que uma resposta tão urgente e desproporcional a um único estudo,
e por que uma reação tão rápida e coordenada?
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