terça-feira, 8 de julho de 2014

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E LUCRO


Leni Chiarello Ziliotto[1]

O termo sustentabilidade está em evidência nas últimas décadas e mais especificamente no século XXI. Amplo, aplicando-se a todas as áreas e setores, o tema se apresenta aqui como uma breve reflexão sobre a sustentabilidade ambiental nos tempos atuais, deixando a questão da definição e outras questões relacionadas para novas leituras, segundo o interesse de cada leitor.

Ameaças globais estão estampadas em mídias, são temas de teses, insuflam discursos. A vida terrestre está ameaçada? Mesmo com essa possibilidade, parece que à sociedade humana a questão se torna ponto de interesse e ação somente quando envolver a área econômica, ou mais especificamente, o bolso de cada um.

Tomemos, por exemplo, a questão das empresas. A grande maioria delas adere aos programas de responsabilidade social e ambiental na perspectiva de agregar valor ao produto, não necessariamente minimizar possíveis prejuízos à própria vida. Títulos como PRESSÕES GLOBAIS AMEAÇAM O LUCRO DAS EMPRESAS é motivação para empresário comprar e ler o periódico, impresso ou virtual. Já uma manchete do tipo PRESSÕES GLOBAIS AMEAÇAM A VIDA NO PLANETA “poderá” mobilizar o empresário a comprar e ler o periódico.

Ameacemos, pois, o lucro?

Trazemos para esta reflexão um dos temas abordados pela Fundação Dom Cabral, uma das fontes de pesquisa para este breve debate.

Cinco pressões globais que ameaçam o lucro das empresas e a vida terrestre

1.    Perda de habitat – alteração e fragmentação – principalmente através da conversão de terrenos para agricultura, aquacultura e áreas urbanas, imobiliárias e industriais.
2.    Exploração exageradas de espécies animais selvagens, ameaçando espécies para a produção de alimentos, remédios, cosméticos e outros produtos em uma taxa acima da capacidade do planeta.
3.    Poluição causada principalmente pelo uso abusivo de pesticidas na agricultura e aquacultura; dos efluentes urbanos e industriais; por resíduos de exploração mineira.
4.    Mudanças climáticas devido ao aumento da emissão de CO2, causada pela queima de combustíveis fósseis, desmatamentos e procedimentos industriais.
5.    Espécies invasivas introduzidas deliberadamente ou inadvertidamente de uma parte do mundo para outra, o que faz que que eles se tornem predadores, competidores ou parasitas das espécies nativas.

Para a compreensão da complexidade de questões ambientais como essas, requer uma reflexão sobre alguns hábitos das sociedades humanas, porque há indicativos de que a ação humana é um dos fatores que mais contribui para aumentar essa pressão.

Acerca da preservação do meio ambiente, os brasileiros ouvem a todo o momento cobranças incisivas, fazendo-os pensar que são os culpados pela degradação ambiental do planeta. É preciso que os informantes - escola, mídia, igreja, centros de pesquisa, etc. -, esclareçam a questão de maneira justa, verdadeira. Exemplo, quando se trata do desmatamento, da destruição de florestas, é necessário pontuar que esse fenômeno ocorreu em todos os países, iniciando pelos mais desenvolvidos economicamente, o que nos leva a uma hipótese de relação direta entre destruição ambiental e desenvolvimento econômico.

Essa cobrança mais incisiva ao Brasil talvez seja porque o país é uma potencia em termos de ecossistemas, não apenas graças ao seu tamanho, mas também pela variedade de espécies e pela vasta quantidade de material genético ainda não descoberta. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2014), abriga 20% das espécies do planeta, que estão distribuídas entre alguns dos biomas mais importantes do mundo – Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Zona Costeira, Pantanal e Pampa -. Para Ceotto e Pavese (2014), isso é um capital natural de altíssimo valor que pode colocar o Brasil em uma posição de liderança nas discussões mundiais.

Entretanto, apresentamos aqui alguns números, envolvendo TODOS os países a respeito de perdas ambientais, valendo-nos de dados apresentados também pela Fundação Dom Cabral pesquisados no Ministérios do Meio Ambiente do Brasil e na TEEB (The Economics of Ecosystems and Biodiversity). Já perdemos metade dos pantanais desde 1.900; cerca de 20% das florestas de mangue; 20% dos recifes e corais destruídos e 30% danificados por pesca predatória e poluição.

Sabemos que a maioria dos negócios depende de água potável. Mesmo assim, o processo produtivo, em sua grande maioria, polui os lençóis d’água ao lançar rejeitos e ao usar agrotóxicos exageradamente, entre outros. Esse procedimento de poluição dos recursos hídricos, segundo a Fundação Dom Cabral, gera, ao mesmo tempo, riscos e oportunidades.
Riscos: aumento do custo da água; imprevisibilidade quanto ao seu fornecimento; restrições impostas pelos governos; tratamentos inadequados e insuficientes, entre outros.

Oportunidades: desenvolvimento de novos produtos que utilizam menos água em seu processo de fabricação; iniciativas de administração eficiente dos recursos hídricos; melhora na eficiência do seu uso, entre outros.

Também, para as empresas, o comportamento do consumidor é importante na hora de pensar o produto. Por isso, ao identificar consumidores conscientes da preservação ambiental, precisam desenvolver produtos menos agressivos e destruidores. É uma questão de sobrevivência da empresa.

Uma pesquisa recente mostra que o comportamento de compras dos consumidores pode ser influenciado pela consciência ecológica, já que 81% dos entrevistados se declararam dispostos a parar de comprar produtos de empresas que não sejam éticas em suas práticas de utilização de recursos naturais.

O valor econômico nas questões da conservação dos recursos naturais foi tratado até bem pouco tempo como invisível. Nas últimas décadas, pesquisas e teorias procuram evidenciar e demonstrar que a preservação e o uso sustentável do capital natural são condições vitais para se alcançar um desenvolvimento econômico sustentável.

A lógica está em compreender que todas as atividades de negócio dependem de serviços fornecidos pelo meio ambiente, e as organizações que os utilizarem de forma não sustentável, impactarão e ameaçarão a rentabilidade e a prosperidade do seu próprio negócio.

Na área da educação, no Brasil é desde 1996 com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que o tema meio ambiente é proposto como tema inter e transdisciplinar com a finalidade de abarcar a vasta gama de conhecimentos e áreas.

Por isso, para a apreensão e compreensão da sustentabilidade ambiental nas empresas, nas instituições de ensino, nos meios de comunicação, entre outros, são necessária ferramentas tangíveis, como indicadores.

Não há como medir exatamente o quanto as perdas ambientais representam, mas o monitoramento dessas perdas é fundamental para tomada de decisões na perspectiva da sustentabilidade. A Tabela 1 apresenta alguns - há outros - Indicadores de Sustentabilidade na atualidade. Sugerimos sejam pesquisados especificamente pelo leitor, em fontes confiáveis de pesquisa.

Tabela 1: Indicadores de Sustentabilidade

Sigla
Indicador
1
BIP 2020
Índice de Biodiversidade e Parceria 2020
2
BIP 40
Índice de Desigualdade e Pobreza
3
DNA Brasil
DNA Brasil
4
EF
Pegada Ecológica
5
EPI
Índice de Desempenho Ambiental
6
EVI
Índice de Vulnerabilidade Ambiental
7
FIB/GNH
Indicadores de Bem Estar Psicológico (Felicidade Interna Bruta/Felicidade Nacional Bruta)
8
LPI
Índice Planeta Vivo
9
GPI
Indicador de Progresso Genuíno
10
GSI
Genuine Saving Indicador do Banco Mundial
11
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
12
IDH + IPH + IDG + MPG
Índice de Desenvolvimento Humano + Índice de Pobreza Humana + Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Gênero + Índice de Participação segundo o Gênero.
13
IEWB
Índice de Desempenho Econômico Bem-estar
14
IPR
Calvet-Handerson Indicadores de Qualidade de Vida
15
IPRS
Índice Paulista de RS
16
ISE
Índice de Sustentabilidade Empresarial
17
ISEW
Índice de Sustentabilidade
18
ISH
Índice de Saúde Social
19
PIB Verde
Produto Interno Bruto considerando o Patrimônio Ecológico
20
RCI
Índice de Competitividade Responsável
21
SF
Pegada Social
22
WN
O Bem Estar das Nações
23

Princípios de Bellagio
Fonte: Autoral, com dados da bibliografia.


A cerca dos indicadores, fazemos três observações. Primeiro, reiteramos a hipótese de que a sustentabilidade ambiental está em uma ligação direta com a questão econômica.
Existem outros indicadores, o que permite afirmar que, em teoria, temos ferramentas de controle ambiental na perspectiva da sustentabilidade.

Na lógica de “em teoria”, a terceira questão é que, após tanto tempo de criação dos indicadores, é difícil vislumbrar alguma forma de mensurar o desenvolvimento sustentável ou a sustentabilidade ambiental. Pode-se aqui levantar mais uma hipótese, a de que o surgimento de muitas iniciativas de avaliação voltadas para a dimensão ambiental parece ter aumentado a confusão.

Veja-se no exemplo do PIB Verde que propõe que o crescimento econômico deve ser visto como como crescimento de riqueza per capita, e não de crescimento de produto per capita, já que o PIB não inclui a depreciação de muitos ativos, como a degradação de ecossistemas. (VEIGA, 2009).

Percebe-se que quando se diz que a sustentabilidade ambiental está diretamente ligada a área da economia, é dizer que o objetivo dos indicadores é imputar valores monetários a bens e serviços ambientais. Em relação a isso, Veiga (2009) diz que a questão dessa metodologia de indicadores ambientais é a ideia de que existe a possibilidade de substituição entre os três fatores: trabalho, capital e recursos naturais.

Atrevemo-nos a dizer que estudos e indicadores para que a sustentabilidade ambiental seja alcançada, promoverão poucas mudanças se isoladas em seus escritórios ou se forem apenas mais um instrumento de promoção acadêmica aos pesquisadores. O que precisa ser feito é que essa teoria toda seja conteúdo para um programa eficaz de educação direcionada às lideranças, entendidas aqui, para a sustentabilidade, as diversas e diferentes lideranças sociais.

Essa tecla da educação é a mais batida e a menos executada enquanto harmonia com os demais setores e áreas da sociedade. O objetivo da formação dessas lideranças é o de promover a mudança de comportamento a começar pelos líderes, sejam eles locais, globais ou empresariais. As teorias apontam para a necessidade de incorporar a sustentabilidade em todos os processos de decisão. Inclui-se, aqui, portanto, a sustentabilidade ambiental.

Resolver problemas pontuais, na questão ambiental, é resolver o problema dos envolvidos, momentaneamente. Já, ações planejadas e para longo prazo, significa compreender os desafios que a sustentabilidade ambiental representa para o momento atual e para as futuras gerações.

Várias experiências de sucesso com produção sustentável podem ser encontradas, inclusive no Brasil, como a da “soja e cerrado preservado” e “óleo de palma com maracujá e outras frutas”. Ações como essas, além de versificar a renda do produtor, incorporam o capital natural na cadeia de valor e internaliza externalidades ambientais, dois temas que levam empresários de alto nível a auditórios para tentar compreender essa questão de responsabilidade ambiental da empresa e valor do produto.

Outro tema em conflito, este em área urbana, é o da briga entre o concreto e o verde. O setor imobiliário, querendo manter seus índices de crescimento, em um duelo com a legislação ambiental, que fecha o cerco desde a Lei de Crimes Ambientais, de 1998. Entre os crimes ambientais que uma construtora pode cometer, o mais polêmico é o da retirada de árvores, porque a lei diz que ninguém é dono de árvore alguma, mesmo que tenha plantado sua semente, e que cada exemplar verde é um bem público. Por isso, para remover árvores, em teoria, a construtora precisará de autorização concedida após minucioso levantamento arbóreo.

Em relação a esse tema também há uma gama de debates, com propostas de cidades verdes, metrópoles verdes, cidades sustentáveis, entre outros termos que promovem, de maneira indireta, o conceito de sustentabilidade ambiental. Para ilustrar, podemos citar o espaço urbano brasileiro que sempre privilegiou os automóveis, com grandes avenidas e rios canalizados. Dificilmente centros de convivência fazem parte dos planos diretores das cidades brasileiras.

Construções sustentáveis que levam em conta ecoeficiência, mobilidade urbana que privilegia pessoas produção de resíduos sólidos a partir da opção e hábito de consumo responsável, são desafios das cidades atuais para o futuro, em todos os países.

Viver espontaneamente perto da natureza parece coisa de um passado distante. Porém, a nostalgia de experimentar uma realidade mais próxima, menos tecnológica, confirma que esse passado não é tão distante. O importante é pensarmos maneiras de retomar o sentido do local, da proximidade, sem abrir mão da dimensão global que as novas tecnologias possibilitam. É uma questão de equilíbrio.

O tema sustentabilidade ambiental é para páginas intermináveis, visto a importância para a vida no planeta. Assim, não fechamos o debate aqui, pelo contrário, propomos o seu início na perspectiva de compreendermos que cidades sustentáveis, planeta sustentável, só serão possíveis com hábitos e cidadãos sustentáveis conscientes de que os problemas globais demandam soluções locais.


Fontes de pesquisa

CEOTTO.P.; PAVESE, H.; RIBEIRO. F. Conservação Internacional CI-Brasil. Relatório Preliminar. Reproset. Brasília, 2012. 
CEOTTO.P.; PAVESE, H. Conservação Internacional CI-Brasil. Relatório Final. Reproset. Brasília, 2014. 
DA VEIGA, J. E. Indicadores Socioambientais: evolução e perspectivas. Revista de Economia Política. vol.29 ano 4. São Paulo Oct/Dec. 2009. ISSN 0101-3157.
www.dnabrasil.rog.br
www.ead.fea.usp.br
www.fdc.org.br
www.iisd.org
www.pnuma.org.br





[1] Mestre em Gestão e Auditoria Ambiental pela Universidade de León, Espanha. Especialista em Educação Ambiental pela Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro. Bióloga, pela Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. 

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