Leni
Chiarello Ziliotto[1]
O termo sustentabilidade está em
evidência nas últimas décadas e mais especificamente no século XXI. Amplo,
aplicando-se a todas as áreas e setores, o tema se apresenta aqui como uma
breve reflexão sobre a sustentabilidade ambiental nos tempos atuais, deixando a
questão da definição e outras questões relacionadas para novas leituras,
segundo o interesse de cada leitor.
Ameaças globais estão estampadas
em mídias, são temas de teses, insuflam discursos. A vida terrestre está
ameaçada? Mesmo com essa possibilidade, parece que à sociedade humana a questão
se torna ponto de interesse e ação somente quando envolver a área econômica, ou
mais especificamente, o bolso de cada um.
Tomemos, por exemplo, a questão
das empresas. A grande maioria delas adere aos programas de responsabilidade
social e ambiental na perspectiva de agregar valor ao produto, não
necessariamente minimizar possíveis prejuízos à própria vida. Títulos como PRESSÕES
GLOBAIS AMEAÇAM O LUCRO DAS EMPRESAS é motivação para empresário comprar e ler
o periódico, impresso ou virtual. Já uma manchete do tipo PRESSÕES GLOBAIS
AMEAÇAM A VIDA NO PLANETA “poderá” mobilizar o empresário a comprar e ler o
periódico.
Ameacemos, pois, o lucro?
Trazemos para esta reflexão um dos
temas abordados pela Fundação Dom Cabral, uma das fontes de pesquisa para este
breve debate.
Cinco
pressões globais que ameaçam o lucro das empresas e a vida terrestre
1. Perda de
habitat – alteração e fragmentação – principalmente através da conversão de
terrenos para agricultura, aquacultura e áreas urbanas, imobiliárias e
industriais.
2. Exploração
exageradas de espécies animais selvagens, ameaçando espécies para a produção de
alimentos, remédios, cosméticos e outros produtos em uma taxa acima da
capacidade do planeta.
3. Poluição
causada principalmente pelo uso abusivo de pesticidas na agricultura e
aquacultura; dos efluentes urbanos e industriais; por resíduos de exploração
mineira.
4. Mudanças
climáticas devido ao aumento da emissão de CO2, causada pela queima de
combustíveis fósseis, desmatamentos e procedimentos industriais.
5. Espécies
invasivas introduzidas deliberadamente ou inadvertidamente de uma parte do
mundo para outra, o que faz que que eles se tornem predadores, competidores ou
parasitas das espécies nativas.
Para a compreensão da complexidade
de questões ambientais como essas, requer uma reflexão sobre alguns hábitos das
sociedades humanas, porque há indicativos de que a ação humana é um dos fatores
que mais contribui para aumentar essa pressão.
Acerca da preservação do meio
ambiente, os brasileiros ouvem a todo o momento cobranças incisivas, fazendo-os
pensar que são os culpados pela degradação ambiental do planeta. É preciso que
os informantes - escola, mídia, igreja, centros de pesquisa, etc. -, esclareçam
a questão de maneira justa, verdadeira. Exemplo, quando se trata do
desmatamento, da destruição de florestas, é necessário pontuar que esse
fenômeno ocorreu em todos os países, iniciando pelos mais desenvolvidos
economicamente, o que nos leva a uma hipótese de relação direta entre
destruição ambiental e desenvolvimento econômico.
Essa cobrança mais incisiva ao
Brasil talvez seja porque o país é uma potencia em termos de ecossistemas, não
apenas graças ao seu tamanho, mas também pela variedade de espécies e pela
vasta quantidade de material genético ainda não descoberta. Segundo o
Ministério do Meio Ambiente (2014), abriga 20% das espécies do planeta, que
estão distribuídas entre alguns dos biomas mais importantes do mundo – Amazônia,
Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Zona Costeira, Pantanal e Pampa -. Para
Ceotto e Pavese (2014), isso é um capital natural de altíssimo valor que pode
colocar o Brasil em uma posição de liderança nas discussões mundiais.
Entretanto, apresentamos aqui alguns
números, envolvendo TODOS os países a respeito de perdas ambientais, valendo-nos
de dados apresentados também pela Fundação Dom Cabral pesquisados no
Ministérios do Meio Ambiente do Brasil e na TEEB (The Economics of Ecosystems
and Biodiversity). Já perdemos metade dos pantanais desde 1.900; cerca de 20%
das florestas de mangue; 20% dos recifes e corais destruídos e 30% danificados
por pesca predatória e poluição.
Sabemos que a maioria dos negócios
depende de água potável. Mesmo assim, o processo produtivo, em sua grande
maioria, polui os lençóis d’água ao lançar rejeitos e ao usar agrotóxicos
exageradamente, entre outros. Esse procedimento de poluição dos recursos
hídricos, segundo a Fundação Dom Cabral, gera, ao mesmo tempo, riscos e
oportunidades.
Riscos: aumento do custo da água;
imprevisibilidade quanto ao seu fornecimento; restrições impostas pelos
governos; tratamentos inadequados e insuficientes, entre outros.
Oportunidades: desenvolvimento de
novos produtos que utilizam menos água em seu processo de fabricação;
iniciativas de administração eficiente dos recursos hídricos; melhora na
eficiência do seu uso, entre outros.
Também, para as empresas, o
comportamento do consumidor é importante na hora de pensar o produto. Por isso,
ao identificar consumidores conscientes da preservação ambiental, precisam
desenvolver produtos menos agressivos e destruidores. É uma questão de
sobrevivência da empresa.
Uma pesquisa recente mostra que o
comportamento de compras dos consumidores pode ser influenciado pela
consciência ecológica, já que 81% dos entrevistados se declararam dispostos a
parar de comprar produtos de empresas que não sejam éticas em suas práticas de
utilização de recursos naturais.
O valor econômico nas questões da
conservação dos recursos naturais foi tratado até bem pouco tempo como
invisível. Nas últimas décadas, pesquisas e teorias procuram evidenciar e
demonstrar que a preservação e o uso sustentável do capital natural são
condições vitais para se alcançar um desenvolvimento econômico sustentável.
A lógica está em compreender que
todas as atividades de negócio dependem de serviços fornecidos pelo meio
ambiente, e as organizações que os utilizarem de forma não sustentável,
impactarão e ameaçarão a rentabilidade e a prosperidade do seu próprio negócio.
Na área da educação, no Brasil é
desde 1996 com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
que o tema meio ambiente é proposto como tema inter e transdisciplinar com a
finalidade de abarcar a vasta gama de conhecimentos e áreas.
Por isso, para a apreensão e
compreensão da sustentabilidade ambiental nas empresas, nas instituições de
ensino, nos meios de comunicação, entre outros, são necessária ferramentas
tangíveis, como indicadores.
Não há como medir exatamente o
quanto as perdas ambientais representam, mas o monitoramento dessas perdas é
fundamental para tomada de decisões na perspectiva da sustentabilidade. A
Tabela 1 apresenta alguns - há outros - Indicadores de Sustentabilidade na
atualidade. Sugerimos sejam pesquisados especificamente pelo leitor, em fontes
confiáveis de pesquisa.
Tabela 1:
Indicadores de Sustentabilidade
Sigla
|
Indicador
|
|
1
|
BIP 2020
|
Índice
de Biodiversidade e Parceria 2020
|
2
|
BIP 40
|
Índice
de Desigualdade e Pobreza
|
3
|
DNA Brasil
|
DNA
Brasil
|
4
|
EF
|
Pegada
Ecológica
|
5
|
EPI
|
Índice
de Desempenho Ambiental
|
6
|
EVI
|
Índice
de Vulnerabilidade Ambiental
|
7
|
FIB/GNH
|
Indicadores
de Bem Estar Psicológico (Felicidade Interna Bruta/Felicidade Nacional Bruta)
|
8
|
LPI
|
Índice
Planeta Vivo
|
9
|
GPI
|
Indicador
de Progresso Genuíno
|
10
|
GSI
|
Genuine
Saving Indicador do Banco Mundial
|
11
|
IBGE
|
Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística
|
12
|
IDH + IPH +
IDG + MPG
|
Índice
de Desenvolvimento Humano + Índice de Pobreza Humana + Índice de
Desenvolvimento Ajustado ao Gênero + Índice de Participação segundo o Gênero.
|
13
|
IEWB
|
Índice
de Desempenho Econômico Bem-estar
|
14
|
IPR
|
Calvet-Handerson
Indicadores de Qualidade de Vida
|
15
|
IPRS
|
Índice
Paulista de RS
|
16
|
ISE
|
Índice
de Sustentabilidade Empresarial
|
17
|
ISEW
|
Índice
de Sustentabilidade
|
18
|
ISH
|
Índice
de Saúde Social
|
19
|
PIB Verde
|
Produto
Interno Bruto considerando o Patrimônio Ecológico
|
20
|
RCI
|
Índice
de Competitividade Responsável
|
21
|
SF
|
Pegada
Social
|
22
|
WN
|
O
Bem Estar das Nações
|
23
|
Princípios
de Bellagio
|
Fonte:
Autoral, com dados da bibliografia.
A cerca dos indicadores, fazemos
três observações. Primeiro, reiteramos a hipótese de que a sustentabilidade
ambiental está em uma ligação direta com a questão econômica.
Existem outros indicadores, o que permite
afirmar que, em teoria, temos ferramentas de controle ambiental na perspectiva
da sustentabilidade.
Na lógica de “em teoria”, a terceira
questão é que, após tanto tempo de criação dos indicadores, é difícil
vislumbrar alguma forma de mensurar o desenvolvimento sustentável ou a
sustentabilidade ambiental. Pode-se aqui levantar mais uma hipótese, a de que o
surgimento de muitas iniciativas de avaliação voltadas para a dimensão
ambiental parece ter aumentado a confusão.
Veja-se no exemplo do PIB Verde
que propõe que o crescimento econômico deve ser visto como como crescimento de
riqueza per capita, e não de
crescimento de produto per capita, já
que o PIB não inclui a depreciação de muitos ativos, como a degradação de
ecossistemas. (VEIGA, 2009).
Percebe-se que quando se diz que a
sustentabilidade ambiental está diretamente ligada a área da economia, é dizer
que o objetivo dos indicadores é imputar valores monetários a bens e serviços
ambientais. Em relação a isso, Veiga (2009) diz que a questão dessa metodologia
de indicadores ambientais é a ideia de que existe a possibilidade de
substituição entre os três fatores: trabalho, capital e recursos naturais.
Atrevemo-nos a dizer que estudos e
indicadores para que a sustentabilidade ambiental seja alcançada, promoverão poucas
mudanças se isoladas em seus escritórios ou se forem apenas mais um instrumento
de promoção acadêmica aos pesquisadores. O que precisa ser feito é que essa
teoria toda seja conteúdo para um programa eficaz de educação direcionada às
lideranças, entendidas aqui, para a sustentabilidade, as diversas e diferentes
lideranças sociais.
Essa tecla da educação é a mais
batida e a menos executada enquanto harmonia com os demais setores e áreas da
sociedade. O objetivo da formação dessas lideranças é o de promover a mudança
de comportamento a começar pelos líderes, sejam eles locais, globais ou
empresariais. As teorias apontam para a necessidade de incorporar a
sustentabilidade em todos os processos de decisão. Inclui-se, aqui, portanto, a
sustentabilidade ambiental.
Resolver problemas pontuais, na
questão ambiental, é resolver o problema dos envolvidos, momentaneamente. Já,
ações planejadas e para longo prazo, significa compreender os desafios que a
sustentabilidade ambiental representa para o momento atual e para as futuras
gerações.
Várias experiências de sucesso com
produção sustentável podem ser encontradas, inclusive no Brasil, como a da
“soja e cerrado preservado” e “óleo de palma com maracujá e outras frutas”.
Ações como essas, além de versificar a renda do produtor, incorporam o capital
natural na cadeia de valor e internaliza externalidades ambientais, dois temas
que levam empresários de alto nível a auditórios para tentar compreender essa
questão de responsabilidade ambiental da empresa e valor do produto.
Outro tema em conflito, este em
área urbana, é o da briga entre o concreto e o verde. O setor imobiliário,
querendo manter seus índices de crescimento, em um duelo com a legislação
ambiental, que fecha o cerco desde a Lei de Crimes Ambientais, de 1998. Entre
os crimes ambientais que uma construtora pode cometer, o mais polêmico é o da
retirada de árvores, porque a lei diz que ninguém é dono de árvore alguma,
mesmo que tenha plantado sua semente, e que cada exemplar verde é um bem
público. Por isso, para remover árvores, em teoria, a construtora precisará de
autorização concedida após minucioso levantamento arbóreo.
Em relação a esse tema também há
uma gama de debates, com propostas de cidades verdes, metrópoles verdes,
cidades sustentáveis, entre outros termos que promovem, de maneira indireta, o
conceito de sustentabilidade ambiental. Para ilustrar, podemos citar o espaço
urbano brasileiro que sempre privilegiou os automóveis, com grandes avenidas e
rios canalizados. Dificilmente centros de convivência fazem parte dos planos
diretores das cidades brasileiras.
Construções sustentáveis que levam
em conta ecoeficiência, mobilidade urbana que privilegia pessoas produção de
resíduos sólidos a partir da opção e hábito de consumo responsável, são
desafios das cidades atuais para o futuro, em todos os países.
Viver espontaneamente perto da
natureza parece coisa de um passado distante. Porém, a nostalgia de
experimentar uma realidade mais próxima, menos tecnológica, confirma que esse
passado não é tão distante. O importante é pensarmos maneiras de retomar o
sentido do local, da proximidade, sem abrir mão da dimensão global que as novas
tecnologias possibilitam. É uma questão de equilíbrio.
O tema sustentabilidade ambiental
é para páginas intermináveis, visto a importância para a vida no planeta.
Assim, não fechamos o debate aqui, pelo contrário, propomos o seu início na
perspectiva de compreendermos que cidades sustentáveis, planeta sustentável, só
serão possíveis com hábitos e cidadãos sustentáveis conscientes de que os
problemas globais demandam soluções locais.
Fontes de
pesquisa
CEOTTO.P.; PAVESE, H.; RIBEIRO. F. Conservação Internacional CI-Brasil. Relatório Preliminar. Reproset. Brasília, 2012.
CEOTTO.P.; PAVESE, H. Conservação Internacional CI-Brasil. Relatório Final. Reproset. Brasília, 2014.
DA VEIGA, J. E. Indicadores Socioambientais: evolução e perspectivas. Revista de Economia Política. vol.29 ano 4. São Paulo Oct/Dec. 2009. ISSN 0101-3157.
www.dnabrasil.rog.br
www.ead.fea.usp.br
www.fdc.org.br
www.iisd.org
www.pnuma.org.br
CEOTTO.P.; PAVESE, H.; RIBEIRO. F. Conservação Internacional CI-Brasil. Relatório Preliminar. Reproset. Brasília, 2012.
CEOTTO.P.; PAVESE, H. Conservação Internacional CI-Brasil. Relatório Final. Reproset. Brasília, 2014.
DA VEIGA, J. E. Indicadores Socioambientais: evolução e perspectivas. Revista de Economia Política. vol.29 ano 4. São Paulo Oct/Dec. 2009. ISSN 0101-3157.
www.dnabrasil.rog.br
www.ead.fea.usp.br
www.fdc.org.br
www.iisd.org
www.pnuma.org.br
[1] Mestre em Gestão e Auditoria Ambiental pela
Universidade de León, Espanha. Especialista em Educação Ambiental pela
Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro. Bióloga, pela Universidade de
Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
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