A Floresta Ombrófila
Mista, também conhecida como Floresta de Araucária, faz parte do bioma da Mata Atlântica
(Decreto Lei 750/1993), considerado como detentor de altíssimos níveis de
diversidade, apesar de intensamente explorado (Lima & Capobianco 1997).
No início do
século XX cerca de 35% da cobertura vegetal dos estados do sul do Brasil
estavam representados pela Floresta de Araucária. Atualmente, estima-se que os remanescentes
ocupem entre 1% a 4% da área original (Lima & Capobianco 1997, Guerra et
al. 2002). Devido a esta drástica redução em sua área de ocorrência, a Floresta
de Araucária é considerada em estado crítico em termos de conservação
(Dinerstein et al. 1995, Biodiversity Support Program 1995).
A espécie
Araucaria angustifolia (Bert.) O. Kuntze é o principal componente da Floresta
de Araucária. Pertencente à família Araucariaceae é a única espécie de seu
gênero com ocorrência natural no Brasil e está na categoria de vulnerável na
lista de espécies ameaçadas da IUCN (Hilton-Taylor 2000). Essa espécie fornece
principalmente madeira, mas também outros produtos como sementes para alimentação
humana e da fauna nativa além de resina (Inoue et al. 1984, Carvalho 1994).
A madeira da araucária
representou um importante produto de exportação nos anos 60 (Reitz et al. 1978)
e suas características silviculturais têm revelado grande potencial para
reflorestamentos comerciais (Embrapa 1988, Guerra et al. 2002). A área de
ocorrência natural de A. angustifólia ocupava, no sul do Brasil, grande parte
dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Agrupamentos
menores eram encontrados nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito
Santo (Backes 1999). A área de ocorrência estava limitada a um quadrilátero
formado pelos paralelos 19º15’ e 31º30’S e pelos meridianos 41º30’ e 54º30’W
(Carvalho 1994). Apesar da importância econômica e ecológica da araucária,
poucos trabalhos têm enfocado a biologia desta espécie em formações naturais
(Solórzano Filho 2001).
Na maioria dos
casos, apenas informações gerais sobre fenologia da espécie são mencionadas e
indicam a emissão de estruturas reprodutivas (estróbilos) de agosto a janeiro e
a produção de sementes de março a setembro, no Paraná, de abril a julho em São
Paulo e Santa Catarina, e de abril a agosto no Rio Grande do Sul (Carvalho
1994). Os trabalhos que abordaram a biologia reprodutiva apresentam algumas
informações conflitantes com relação ao ciclo de produção de sementes.
Burlingame (1914) mencionou que a vida de um cone feminino não é maior que dois
anos; Shimoya (1962) relatou que o desenvolvimento a partir do carpelo primordial
até a semente demora aproximadamente quatro anos e Mattos (1994) registrou que
o tempo de formação de uma pinha desde a diferenciação celular é de mais de
três anos.
O detalhamento da
fenologia reprodutiva de A. angustifolia é de grande importância tanto econômica
como ecológica, com aplicação direta na coleta de sementes destinadas à
conservação de germoplasma, na obtenção de sementes para fins comerciais e no
entendimento da dinâmica e regeneração de populações naturais.
Mantovani
et al.: Fenologia reprodutiva em
Araucaria angustifólia. Revista Brasil. Bot., V.27, n.4, p.787-796,
out.-dez. 2004
Araucária angustifólia: a árvore do pinhão
Araucária angustifólia
Sendo
um mês tipicamente frio, a culinária das festas do mês de junho - as festas
juninas - não poderia deixar de conter bebidas e alimentos energéticos e
quentes: pinhão, quentão, batata assada, mandioca frita, pipoca, amendoim,
canjica e bolo de fubá são alguns exemplos dessa "quentíssima"
culinária. Mas aqui nós vamos falar sobre o pinhão - a semente de uma árvore
bem brasileira: o pinheiro brasileiro (Araucaria
angustifolia).
Esta
semente apresenta um valioso teor nutricional. Tanto que era a principal fonte
de alimentação de algumas tribos indígenas do sul do Brasil. Sua polpa é
formada basicamente de amido, sendo muito rica em vitaminas do complexo B,
cálcio, fósforo e proteínas. E antes de falarmos desta semente e sua bela
árvore, vale lembrar que a melhor maneira de aproveitar todas as deliciosas
potencialidades do pinhão é saber prepará-lo. Pelo menos um ingrediente é
indispensável: a paciência. Deixe-o cozinhar lentamente, para que a casca se
abra e libere todas as suas qualidades de aroma e sabor.
Comida de índio?
Os
índios paranaenses, coletores de alimentos, tinham o pinhão como um alimento
por excelência e acabavam atuando como propagadores das florestas de pinheiros.
Para a colheita, os índios botucudos tinham flechas especialmente adaptadas
para derrubar as pinhas ainda presas. A tal flecha chamava-se
"virola".
O
inglês Thomas Bigg-Wither que, no século retrasado, passou pelos campos do
Paraná, registrou: "0 pinhão fruta oblonga, de
cerca de uma polegada e meia de comprimento, com um diâmetro de meia a três quartos
de polegada na parte mais grossa, tem uma casca coriácea, como a da castanha
espanhola. 0 paladar é, entretanto, superior ao desta última e, como produto
alimentício, basta dizer que os índios muitas vezes só se alimentavam dele,
durante muitas semanas. Pode ser comido cru, mas os índios habitualmente os
assam na brasa até partir, quando fica em condições. 0 sabor ainda melhora
quando cozido, mas este é um sistema que os índios não praticam. 0 estágio mais
delicado do pinhão é quando ele começa a germinar, fazendo aparecer um
pequenino grelo verde numa extremidade. Nada excede a guloseima desse fruto em
tal estado. Os coroados costumam guardar esse fruto para comê-lo mais tarde:
Isto eles fazem enchendo diversos cestos de pinhão, colocados dentro da água
corrente durante quarenta e oito horas. No fim desse tempo os cestos são
tirados fora e o conteúdo é espalhado para secar ao sol. Assim conservados, os
frutos ficam secos e sem gosto, perdendo sem dúvida grande parte de suas
propriedades nutritivas''.
Ficha da Planta
Nome científico: Araucaria angustifolia
Nomes populares: Pinho, pinheiro-do-paraná, pinheiro-brasileiro, pinheiro-caiová, pinheiro-das-missões e pinheiro-são-josé
Família: Araucariáceas
Origem: América do Sul, Brasil
Nomes populares: Pinho, pinheiro-do-paraná, pinheiro-brasileiro, pinheiro-caiová, pinheiro-das-missões e pinheiro-são-josé
Família: Araucariáceas
Origem: América do Sul, Brasil
Trata-se
de uma árvore alta com copa de formato de cálice. A araucária ou pinheiro
brasileiro se destaca das outras espécies brasileiras principalmente por sua
forma original que dá às paisagens do sul uma característica toda especial. No
passado, antes que a lavoura de café e cereais cobrisse as terras paranaenses e
antes que os trigais cobrissem os campos gaúchos, sua presença era tão comum
que os índios chamaram de "curitiba" (que quer dizer "imensidão
de pinheiros") toda uma extensa região onde esta árvores predominava. E a
palavra acabou imortalizada, denominando a capital do Paraná.
Presente
no planeta desde a última glaciação - que começou há mais de um milhão e
quinhentos mil anos, a araucária, segundo o engenheiro florestal Paulo
Carvalho, da Embrapa de Colombo, PR, já ocupou área equivalente a 200 mil
quilômetros quadrados no Brasil, predominando nos territórios do Paraná (80.000
km²), Santa Catarina (62.000 km²) e Rio Grande do Sul (50.000 km²), com manchas
esparsas em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, que juntas, não
ultrapassam 4% da área originalmente ocupada pela Araucaria angustifolia no
país.
É
uma espécie resistente, tolera até incêndios rasos em razão de sua casca grossa
que faz papel de isolante térmico. A capacidade de germinação é alta e chega a
90% em pinhões recém-colhidos. Espécie pioneira, dissemina-se facilmente em
campo aberto. Esta gimnosperma é uma árvore de grande porte: atinge cerca de 50
m de altura e seu tronco pode medir até 8,5 m de circunferência. Seu fruto, a
pinha, contém de 10 a 150 sementes - os famosos pinhões - que são muito
nutritivas, servindo de alimento a aves, animais selvagens e ao homem.
A
árvore cresce em solo fértil, em altitudes superiores a 500 m e atinge bom
desenvolvimento em 50 anos. Seu formato é bem peculiar:o tronco ergue-se reto,
sem nenhum desvio e se ramifica apenas no topo, formando a interessante copa,
com os ramos desenvolvendo-se horizontalmente, as pontas curvadas para cima;
superpostos uns aos outros, formando vários andares. Logo abaixo da copa, nos
pinheiros mais antigos, aparecem às vezes alguns tocos de ramo, quebrando a
simetria característica. É planta dióica, isto é, suas flores - masculinas e
femininas - nascem separadas, em árvores diferentes. Assim, um pé de Araucária
angustifolia possui inflorescências (chamadas estróbilos) somente masculinas ou
somente femininas.
Ao
contrário do que geralmente se pensa, as famosas pinhas usadas nos enfeites de
Natal não provém das matas nativas de araucária, mas de espécies de introdução
relativamente recente, pertencentes ao gênero Pinus. A pinha da araucária, ou
estróbilo feminino, na maturidade, se desmancha soltando os pinhões e as
escamas murchas. Quando chega a época da reprodução, o vento transporta o pólen
das inflorescências masculinas para as femininas. É o tipo de polinização que
os botânicos denominam anemófila. A araucária é, como já foi dito, uma
gimnosperma (gymnos - nú; sperma - semente): suas sementes não estão encerradas
em ovários. O óvulo nasce na axila de um megasporófilo, que é protegido por uma
folha modificada - a escama de cobertura. Esta acaba envolvendo e protegendo o
óvulo fecundado, constituindo o que se conhece como "pinhão". Uma
árvore feminina produz uma média anual de 80 inflorescências, cada uma com
cerca de 90 pinhões.
A Araucária
angustifolia é uma
árvore útil: pode-se dizer que tudo nela é aproveitável, desde a amêndoa, no
interior dos pinhões, até a resina que, destilada fornece alcatrão, óleos
diversos, terebintina e breu, para variadas aplicações industriais. As sementes
são ricas em amido, proteínas e gorduras, constituindo um alimento bastante
nutritivo. É comum ver bandos de pássaros, principalmente periquitos e
papagaios, pousados nos galhos das araucárias, bicando as amêndoas. É também
costume alimentar os porcos com pinhões, hábito bem comum no sul do País. Mas é
a madeira que reúne maior variedade de aplicações. Em construção, já foi usada
para forros, assoalhos, e vigas. Vastas áreas de pinheirais foram cultivadas
exclusivamente para a confecção de caixas e palitos de fósforos. E a madeira
serviu até como mastros em embarcações. Em aplicações rústicas, os galhos eram
apenas descascados e polidos, transformando-se em cabos de ferramentas
agrícolas.
A
aplicação do pinheiro-do-paraná ou pinheiro brasileiro estende-se ao importante
campo da fabricação de papel. Da sua madeira obtém-se a pasta de celulose que,
após uma série de operações industriais, fornece o papel. Curiosidades: A
semente da araucária, o pinhão, é realmente muito nutritiva. Pesquisas
históricas e arqueológicas sobre as populações indígenas que viveram no
planalto sul-brasileiro, de 6000 anos até os nossos dias, registram a
importância do pinhão no cotidiano desses grupos. Restos de cascas de pinhões
aparecem em meio aos carvões das fogueiras acesas pelos antigos habitantes das
matas com araucária. Um depósito de restos de pinhões em meio a uma espessa
camada de argila evidencia não apenas a existência do pinhão na dieta diária
dos grupos, mas também uma engenhosa solução para conservá-lo durante longos
períodos, evitando o risco de deterioração pelas ações do clima ou do ataque de
animais.
Sabe-se
também que o pinhão servia de alimento para inúmeras espécies animais,
inclusive caititus selvagens (espécie de porco), atraindo-os durante a época de
amadurecimento das pinhas. Assim, ao lado da coleta anual do pinhão, os
indígenas igualmente caçavam esses animais. Uma enorme diversidade de animais,
desde grandes mamíferos até os menores invertebrados, vive na floresta de
araucárias - e depende dela. Quando os pinhões amadurecem, a fartura de
alimento altera toda a vida na mata. A gralha-azul, por exemplo, que utiliza a
araucária para fazer seu ninho, esconde seu alimento no oco dessas árvores. Já
o macaco bugio e o ouriço são dotados de uma curiosa habilidade: são capazes de
debulhar cuidadosamente as pinhas que guardam os pinhões. O que sobra é
aproveitado por besouros, formigas e uma infinidade de insetos.
Fonte: http://www.jardimdeflores.com.br/floresefolhas/a20pinhao.htm
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